O que a capoeira, o maracatu e cidades históricas brasileiras, como Ouro Preto (MG), têm em comum? Todos são patrimônios históricos e culturais do Brasil. Fazem parte da identidade, memória e desenvolvimento socioeconômico do nosso país. Há 80 anos, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), entidade vinculada ao Ministério da Cultura, busca promover e coordenar o processo de preservação desses bens e, todo 17 de agosto, é celebrado o Dia do Patrimônio Histórico. No caso do patrimônio tombado, Minas Gerais detém 40% de todo o Brasil.
A data é relevante para que a sociedade se lembre do Patrimônio Histórico como um conjunto de bens e tradições culturais, de interesse para a memória e identidade do Brasil e da importância de preservá-los para as futuras gerações. Para Carla de Paula Amaral Macedo, vice-presidente de Recursos Associativos e Comunicação da Associação Brasileira de Engenharia de Sistemas Prediais, a Abrasip-MG, o Dia do Patrimônio Histórico só reforça a necessidade de cuidar bem das edificações antigas, pois infelizmente, ainda ocorrem muitos acidentes por falhas ou falta de manutenção predial.
“Na arquitetura e engenharia, a ocorrência de problemas patológicos em edifícios antigos são mais graves do que nos novos. Isso se dá por causa da caracterização da sua estrutura. Por isso, é importante o conhecimento da sua história, projeto e intervenções, a partir de dados coletados e depoimentos de pessoas envolvidas, direta ou indiretamente. Além disso, os profissionais responsáveis pelo cuidado da edificação devem buscar dados suficientes no que se refere à preservação e restauração para se evitar a destruição do patrimônio arquitetônico e o rompimento da consciência histórica”, destaca.
Difundindo conhecimento para preservar o futuro
A cidade de Mariana, em Minas Gerais, é sede de um projeto destinado a contribuir com a preservação de seu patrimônio material e imaterial, a partir da formação de mão de obra especializada na conservação e restauro das construções. A implantação da Escola de Ofícios Tradicionais de Mariana, iniciativa desenvolvida pelo Instituto Pedra, com patrocínio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), garantirá a capacitação gratuita de 600 alunos, em cinco áreas, nos próximos três anos.
A Escola de Ofícios Tradicionais de Mariana oferece cursos de Alvenarias (taipa, adobe e pau a pique), Carpintaria, Ferragem (forja artística e ferragem), Cantaria(pedra) e Pinturas especiais (cal, óleo, estêncil e pátinas) – todos eles com duração de um semestre. “Nosso objetivo, ao desenvolver esta iniciativa, foi propiciar a reprodução e a preservação de um conhecimento que foi a base de todo o patrimônio mineiro, em uma região de enorme valor simbólico, a partir do ensino de ofícios que correm o risco de desaparecer”, analisa o diretor-presidente do Instituto Pedra, Luiz Fernando de Almeida.
Cada turma tem no máximo 20 alunos, é acompanhada por um professor e por um mestre artífice (especialista em determinada área, com conhecimento adquirido a partir de sua experiência, sem necessariamente formação acadêmica). Além das aulas teóricas e práticas ligadas aos ofícios, os alunos receberão aulas complementares de empreendedorismo, história e patrimônio cultural, comunicação e expressão. Haverá também a realização de trabalhos de campo.
Além de propiciar a preservação do patrimônio, a Escola de Ofícios Tradicionais de Mariana será responsável por gerar impacto social. “Outras experiências semelhantes em âmbito nacional ajudavam a formar mão de obra e estas pessoas rapidamente eram contratadas por empreiteiras. Queremos também romper com essa ideia de que mestres de ofício só fazem restauro, pois acredito que é possível construir o futuro a partir do domínio do passado, através da preservação desse conhecimento, que poderá também ser aplicado na construção civil contemporânea”, destaca Almeida.